Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa. Embrapa Meio Ambiente. Coleção de Educação Ambiental Cartilhas dos Jogos Ambientais da Ema. Cartilha número 2: NOSSO AMIGO SOLO. Autores: Marco Antonio Ferreira Gomes, Heloisa Ferreira Filizola e Manoel Dornelas de Souza. Publicada em Jaguariúna, São Paulo, no ano de 2003. ISBN 85-85771-25-9. Conteúdo da Cartilha 2: SEÇÃO 1 : O que é o solo? SEÇÃO 2: Importância do solo em nossa vida. SEÇÃO 3: O mau uso do solo. SEÇÃO 4: Uma terra onde nenhuma planta cresce e nenhum bicho permanece. SEÇÃO 5: A ameaça de morte dos rios e sua relação com o solo. SEÇÃO 6: Como proteger o solo. GLOSSÁRIO. REFERêNCIAS. Seção de POESIAS. Início da Cartilha 2 - NOSSO AMIGO SOLO. SEÇÃO 1 : O que é o solo? Os solos ocupam a maior porção da superfície dos continentes. O solo é um corpo natural formado, principalmente, pela transformação dos minerais presentes nas rochas. Esta transformação é de natureza física, química e biológica e se chama intemperismo. O solo é formado por partículas de diversos tamanhos que, normalmente, estão unidas entre si, formando os torrões. No solo, além das partículas de minerais e das partículas orgânicas, estão presentes organismos de vários tamanhos que representam a porção viva conhecida pelo nome de biota do solo. O solo está organizado em camadas denominadas horizontes que podem ser de diversas espessuras. Essa separação em horizontes é determinada, quase sempre, pela variação de cor. Os horizontes do solo podem ser de várias cores que vão do cinza quase negro, passando pelo vermelho intenso até chegar aos tons bem mais claros. A atividade biológica, em geral, escurece o solo pelo acúmulo de matéria orgânica no solo. Outras características como a composição e a maneira como as partículas do solo estão agrupadas também são usadas para separar os horizontes. O arranjo dos diferentes horizontes permite que os solos possam ser separados em diferentes tipos. Os diferentes tipos de solos resultam da interação entre o material de origem (rocha), o clima, as diversas formas de relevo, e os diversos organismos vivos. O solo quando é muito argiloso e está presente em locais onde há dificuldades de uso agrícola, pode ser usado como matéria prima nas olarias para fabricação de telhas, tijolos e objetos cerâmicos de decoração. SEÇÃO 2: Importância do solo em nossa vida. O solo é necessário para os seres vivos porque se constitui em fonte de nutrientes e de água para as plantas que nele crescem, as quais por sua vez, alimentam o homem e os animais. Graças a ele existem plantas e animais de todos os tipos. É o solo que permite ao agricultor plantar e colher os vegetais de que necessitamos para nossa sobrevivência. O solo é também muito importante no processo de infiltração de água para o abastecimento dos aqüíferos, conhecidos como reservatórios de água em profundidade (no subsolo). Essa água, também chamada de água subterrânea, muitas vezes sai à superfície, dando origem aos olhos d'água ou nascentes de água. Sabendo então que o solo favorece a infiltração de água, deve-se ter muito cuidado onde serão depositados produtos químicos perigosos, entre eles agrotóxicos, resíduos industriais e urbanos (esgoto doméstico) e lixo. A decomposição de dejetos de animais de criação, de alguns resíduos industriais e do lixo, em geral, dão origem à formação de chorume, que pode se infiltrar no solo e contaminar a água subterrânea ou escorrer pela superfície do solo contaminando águas superficiais. Pelo mesmo motivo, pilhas, baterias, embalagens de agrotóxicos e outros objetos que contenham produtos tóxicos ou danosos ao ambiente, não devem ser depositados no solo. É por isso, que não se pode dar o destino final do lixo sem conhecer o seu potencial de reaproveitamento e de perigo para o ambiente. SEÇÃO 3: O mau uso do solo. O homem , desde o início da civilização, tem usado o solo para seu sustento, seja para o cultivo de plantas destinadas à sua alimentação, seja para a criação de animais domésticos. No começo a agricultura era muito rudimentar, com bastante utilização de tração animal. Com o crescimento da população e do aumento da procura por alimentos, o homem passou a usar o solo de modo mais intensivo provocando a erosão, seguido do assoreamento dos rios e cursos d'água, lagos e reservatórios.O uso intensivo do solo tem requerido técnicas que incluem o uso dos adubos e de máquinas modernas, entre outras formas de manejo, com o objetivo de aumentar a produção agrícola. Muitas vezes, essas máquinas são pesadas e causam a compactação do solo, dificultando a infiltração da água em seus horizontes. Isso favorece o movimento da água pela superfície (escoamento superficial) que, juntamente com ela, acaba levando também pequenos pedaços (partículas ou torrões) de solo, levando à formação de ravinas e voçorocas e à degradação da paisagem. O escoamento superficial é uma das principais causas da erosão e de contaminação de água superficial por agrotóxicos. Outro problema associado ao mau uso do solo é a prática de queimada, que altera o solo tornando-o mais pobre e mais exposto ao sol e à chuva, levando à degradação de sua estrutura e à diminuição da matéria orgânica, dificultando a infiltração e aumentando o escoamento superficial. Essa prática afeta a capacidade de produção de alimentos do solo e a vida dos insetos, minhocas e de outros animais muito pequenos que nele vivem. Essa fauna também é importante para que o solo seja bom para o cultivo e para a presença de inimigos naturais no controle natural de algumas populações existentes no ambiente da cultura. Ao longo de muitos anos o mau uso do solo fez com que a produção agrícola diminuísse bastante, o ambiente sofresse as conseqüências e a propriedade rural perdesse seu valor em muitas regiões do nosso país.Vários agricultores nessa situação acabaram endividados e perderam suas terras. Isso também favoreceu o abandono das terras agrícolas e a migração de pessoas para os grandes centros urbanos. Hoje,o homem está revendo as práticas de manejo de solo, seguindo a tendência mundial das chamadas boas práticas agrícolas, onde estão incluídas a adoção de técnicas de conservação. Com isso, espera-se garantir a boa produção, trazendo benefícios, tanto para o agricultor quanto para o meio ambiente. SEÇÃO 4: Uma terra onde nenhuma planta cresce e nenhum bicho permanece. A erosão, um processo natural mas que é intensificado pelo homem, é o processo que promove a perda de grande quantidade de solo. Assim, nos locais onde ela ocorre em estágios avançados, como no caso das ravinas e voçorocas por exemplo, nenhuma planta cresce e há riscos para a fauna e para a ocupação do homem. O que se tem então, é , na maioria das vezes, a paisagem de uma área abandonada. Esse ambiente não favorece a vida do homem, nem das plantas e nem dos animais. Estamos então diante de uma terra totalmente degradada. Onde o solo está comprometido não existe nem plantas, nem gente,nem animais e a água também está comprometida. A terra degradada é o resultado da perda dos horizontes mais superficiais do solo, o que resulta na retirada de boa parte de seus nutrientes, fundamentais para a germinação e crescimento das plantas. SEÇÃO 5: A ameaça de morte dos rios e sua relação com o solo. Não faz muito tempo, a maioria dos rios e de outros cursos d'água de todo o planeta estavam em boas condições, tanto em qualidade e quantidade de água, como em abundância e diversidade de peixes e outros animais aquáticos. No Brasil, essa mudança de padrão de qualidade dos nossos cursos d´água ocorreu com muita rapidez, principalmente quando se faz uma comparaçã0 entre o que existia na década de 80 e o que existe hoje. Até o início dos anos 80, a poluição e a degradação concentravam-se mais nos centros urbanos, estando a zona rural pouco afetada. Com o rápido crescimento da população, houve necessidade de se produzir mais alimentos, o que provocou aumento muito grande das atividades rurais. Porém, esse aumento das atividades no campo não foi acompanhado de um processo educativo para proteção do meio ambiente, o que contribuiu para o desmatamento descontrolado de grandes áreas, o surgimento de erosões e o assoreamento de muitos rios e outros cursos d'água menores. O solo desmatado e sem conservação, fica sem proteção. Exposto à chuva e ao vento, suas camadas superficiais são carregadas pelas água ou pelo vento, indo parar nos rios, enchendo suas calhas ou leitos. Este processo de assoreamento pode determinar a morte de um rio(perda da qualidade de sua água ou até mesmo seu total desaparecimento) e da vegetação do local. Esse cenário ruim, espalhado por todo o país, tem despertado o interesse de muitas pessoas para a recuperação e preservação ambiental em muitas regiões. Já ficou provado que a mudança de comportamento das pessoas conduz a hábitos e a valores diferentes dos atuais. Essa mudança produz um interesse maior pelo meio ambiente e deve começar na escola. A educação ambiental, desde cedo, é que vai sensibilizar o adulto de amanhã do quanto é importante e vital para todos os seres vivos um meio ambiente equilibrado. SEÇÃO 6: Como proteger o solo. Para evitar que a erosão se inicie em uma área, é preciso proteger o solo e isso pode ocorrer por meio de várias ações, tais como: 1- não deixar o solo descoberto (sem vegetação ou cobertura morta), principalmente no período das chuvas; 2- construir curvas de nível para controlar a distribuição (escoamento e infiltração) da água das chuvas; 3- construir terraços para conter(segurar)a água das chuvas e evitar que ela caminhe com força, destruindo o solo; 4- sempre manter e, caso destruídas, recompor as matas ciliares; 5- prevenir a erosão por meio de práticas corretas de manejo do solo e, se iniciada, controlar para evitar danos maiores; 6- promover o planejamento da ocupação da área agrícola, baseada em sua aptidão, na capacidade de uso da terra, nas condições climáticas e socioeconômicas locais, em obediência a Legislação ambiental (reserva legal, entre outras). A proteção do solo pode ser realizada também com a adoção de outras práticas, combinadas com as anteriores, tais como, o uso de sistemas integrados de produção. Esses sistemas protegem o solo, possibilitando sua exploração sem que ocorra a sua exaustão, ou seja, sem o esgotamento de sua capacidade de fornecer nutrientes para as plantas. Ao conjunto das práticas mencionadas acima, dá-se o nome de boas práticas agrícolas. Por meio delas, estimula-se a produção de alimentos seguros do campo à mesa com maior qualidade de produto e do ambiente onde ele está sendo produzido. As boas práticas são formuladas a partir do conhecimento dos perigos que o solo enfrenta e que o expõe ao risco de que algo de ruim aconteça. A partir daí são escolhidos os pontos mais difíceis de controle desses perigos (os pontos críticos de controle), sejam eles físicos (erosão, restos de materiais que causam ferimentos, entre outros), químicos (provenientes do uso de agrotóxicos e de outros insumos como adubos e fertilizantes que geram resíduos químicos) ou biológicos (gerados pela presença de bactérias e fungos causadores de doenças no homem, como aquelas do personagem Jeca Tatu, de Monteiro Lobato). Agora que você aprendeu a conhecer o solo e algumas práticas que podem causar problemas, muitos até mesmo sem solução, esperamos sua contribuição na conservação do solo de sua região fazendo a sua parte e alertando outras pessoas sobre os perigos aos quais esse recurso natural está sendo exposto. Assim, você também passará a ser mais um dos amigos da Ema. GLOSSÁRIO Agrotóxico: substância tóxica utilizada na agricultura ou pecuária para o controle de doenças, pragas e plantas daninhas. Assoreamento: preenchimento ou entupimento do leito de um rio ou curso dá´gua por material ou sedimento arrastado pelas águas das chuvas. Normalmente, esse material vem do solo que sofreu a erosão. Área degradada: refere-se a toda e qualquer área ou solo que sofreu alteração em todas suas propriedades, tornando seu uso bastante restrito ou, até mesmo, inviável. Biota: Conjunto de toda a comunidade de organismos que vive no solo. Boas práticas agrícolas: Conjunto de atividades agrícolas que favorecem boa produção com proteção do meio ambiente. Calhas ou leitos: canal por onde correm as águas dos rios. Este canal foi escavado pelo rio. Chorume: produto liquido resultante da decomposição de dejetos de animal, de resíduos industriais e de lixo. Compactação do solo (solo endurecido): endurecimento da camada superficial do solo provocado pela ação das chuvas sobre o solo desprotegido ou devido ao tráfego constante de máquinas ou veículos. Curva de nível: linhas demarcadas no terreno com valores de altitude em relação ao nível médio do mar. Uma linha curva, em nível, serve de referência para a construção dos terraços que vão proteger o solo contra a erosão; servem para controle do movimento (escoamento superficial) da água das chuvas na área agrícola. Degradação: processo de alteração que torna determinada área ou solo sob condições de uso muito limitadas ou, em alguns casos mais graves, totalmente imprestáveis. Erosão: remoção de solo pela ação das chuvas e pela ação dos ventos. Fauna: conjunto de espécies de animais (aves, mamíferos, insetos, entre outros). Horizontes: camadas de diversas espessras existentes no solo. Infiltração: penetração das águas de chuva no solo ou nas rochas. Intemperismo: alteração dos minerais e rochas pela ação do clima (sol, chuva, ventos, temperatura, entre outros). Lixiviar: ato de movimentar ou deslocar relacionado a compostos químicos no perfil do solo (exemplos: lixiviação de agrotóxicos, de nitrato, de fosfato, entre outros). Matas ciliares: vegetação que ocorrem acompanhando as margens dos rios e córregos e que lembram a forma dos cílios dos nossos olhos, daí o nome de mata "ciliar". Migração: saída de uma determinada região ou país residente para outro, de forma permanente; o termo é utilizado, em biologia, para as viagens priódicas de certos animais, como as aves por exemplo. Minerais: são os componentes das rochas, como o quartzo, a mica, entre outros. Muito argilosos: solo que apresenta em sua composição mais de 60% de argila. Percolar: ato de movimentar da água no perfil do solo; Poluição: alteração de determinado ambiente pela presença de substâncias nocivas aos seres vivos. trata-se de uma palavra de caráter ecológico e de sentido visual (seres vivos e meio ambiente). Normalmente, a poluição é vista como algo de aspecto indesejável, como uma mancha de cor estranha na água, por exemplo. Ravina: é uma escavação do solo provocada por enxurradas. Rotação de culturas: sistema usado na agricultura que estabelece a mudança do tipo de cultura de um ano para outro com a intensão de melhorar as condições de produção agrícola; Sistemas integrados de produção: combinação de dois ou mais tipos de atividades agropecuárias em uma mesma área. Por exemplo, plantação de arroz em área com formação de capim para pasto; atividades de criação de abelhas em área de cultivo de frutas. Terraços: são amontoados de terra ou solo que, normalmente, obedecem a orientação das curvas ou linhas em nível e t~em a função de impedir que as águas das chuvas se movimentem com muita força e assim provoquem a erosão. Voçoroca: é uma ravina que atinge o lençol de água subterrânea. REFERêNCIAS OLIVEIRA, J.B.; JACOMINE, P.K.T.; Camargo, M.N. Classes gerais de solos do Brasil: guia auxiliar para o seu reconhecimento. Jaboticabal: FUNEP, 1992, 201p. RIO GRANDE DO SUL. Secretaria de Agricultura. Manual de conservação do solo. Porto Alegre, 1979. 175p. Seção de POESIAS: SOLO AMBIENTE Autores: Maria Conceição Peres Young Pessoa e Vera Lucia Ferracini (Embrapa Meio Ambiente) Olha só quantos problemas Que eu posso encontrar Se no solo as boas práticas Não consigo implantar Se não cuido da erosão Mais problemas eu vou ter Uma grande voçoroca De repente pode acontecer E aí não tem mais jeito Do processo reverter Se não investir muito dinheiro Minha terra vou perder Dependendo do relevo E do clima vou plantar Somente aquilo que a terra Poderá propiciar O cuidado com as máquinas Com seu peso vou tomar Pois não quero por descuido O meu solo compactar Exitem leis pra auxiliar A segurança do lugar E todas devo seguir Se por boas praticas me guiar Plantio direto na cultura Protege o solo também Terraços na agricultura Dependendo só faz bem. Curvas de nível ajudam A problemas evitar. Rotação das culturas Também vai facilitar. Se tem fendas no meu solo A agua vai percolar. E se aplico agrotóxicos, Também podem lixiviar. Vão pro fundo... nos horizontes E nos lençóis podem chegar Sem boas práticas há perigo Da água contaminar Se não deixo no descanso Meu solo vou estressar Como é vida seu desempenho Logo vai se abalar E assim novos insumos Terei que nele aplicar Para que a produtividade tentemos recuperar. Mas nem sempre é possível Com sucesso alcançar Caminhos de volta para aquilo Que não pensamos estragar. Por isso sempre iremos Na prevenção trabalhar Pois sai muitas vezes mais caro Consertar do que evitar. Dessa forma nós teremos Boas práticas a seguir E no campo junto iremos Só sucesso conseguir. Final da cartilha 2 - Nosso amigo solo. Mais informações podem ser encontradas na Embrapa Meio Ambiente email: sac@cnpma.embrapa.br Telefone: (19) 38678700 - Jaguariúna/SP.